sexta-feira, 21 de março de 2014

As regras da atração

Recentemente eu li um pequeno artigo em um site americano que se chamava algo como 9 conselhos velha-guarda para mulheres serem mais atraentes para os homens. Eu esperava um "te peguei" no final, mas o autor estava falando sério... Inspirada por ele, escrevi minha resposta (também publicada no mesmo site hoje) segue abaixo a tradução (se você puder, leia o original, confesso que minha tradução não foi a melhor...)


Tendo nascido no século XX em uma família que poderia ser considerada bastante avant-garde, eu nunca precisei pensar sobre os papéis tradicionais de gênero. Os meus pais têm carreiras igualmente importantes e sempre compartilharam as contas da casa. Suas habilidades culinárias são idênticas (ou seja, nenhuma) e minha mãe pagou por tantos jantares quanto o meu pai. Ele, inclusive, nunca pareceu se sentiu emasculado com isso - na verdade, sempre curtiu um jantar all inclusive (quem pode culpá-lo?). Mas, aparentemente, os papéis tradicionais de gênero estão voltando com tudo, seja no Brasil ou no além mar- moro na França e os conservadores aqui estão enlouquecendo sobre educação igualitária.

Compilo aqui algumas dicas para o homem comum que quer se manter atraente para a mulher do século XXI, sem precisar voltar ao tempo das donas de casa. 

1 . Faça contato visual

Mas olhe nos meus olhos, encarar meu decote não conta.

Pelo que tenho lido por aí, homens podem sofrer de uma dificuldade de controle na presença do sexo oposto, sobretudo se elas estão vestidas de forma sexy. Seja um homem e prove que é mais forte isso, controle seu pescoço e mantenha seus olhos longe do meu decote!

2 . Seja grato

Quando eu era criança aprendi a musiquinha « com licença, por favor, me desculpe, obrigado, são as 4 palavrinhas que me fazem educado ». Então, sim, nós apreciamos quando você agradece o garçom por repor seu drink, ou quando alguém segura a porta para você.

Importante: Se uma mulher oferece para pagar a conta, sorria e agradeça. Ela não está tentando te emascular, e se isso te faz sentir menos homem talvez seja hora de consultar um especialista .

3 . Mantenha seu cabelo limpo

Tendo vivido em França e os EUA, eu achei estranho que alguns homens não gostam de tomar banho todos os dias. Então, por favor, se você tem cabelo curto ou longo, isso realmente não importa, desde que você o mantenha limpo e cheiroso.

4 . Aprenda a costurar, bordar e passar ferro 

Certa vez um rapaz costurou parte do meu vestido que acabou rasgado depois de um encontro (não precisamos entrar em pormenores.) Eu ia trabalhar na manhã seguinte e se não fosse por ele eu não teria nada para vestir. Foi amor à primeira agulhada!

Mulheres não vêm com habilidades inatas em costura e passamento de roupas. Eu particularmente evito comprar roupas que precisam ser passadas, primeiro porque sou péssima, e segundo porque eu realmente não tenho tempo. Então se você quer isso feito corretamente existem duas opções: terceirizar o serviço, ou fazer você mesmo . Seja um homem e cuide de suas roupas!

5 . Vista-se bonito o tempo todo

Sair de casa de moletom pode até ser confortável, mas emana aquele energia de tô nem aí, e isso não é atraente para a mulher moderna. Gaste 10 minutos a menos no facebook, na playboy etc e pare para refletir sobre o seu figurino.  Vestir-se bem faz maravilhas para todos os homens. Mesmo se você não é última coca-cola do deserto, estar bem vestido vai te fazer ganhar muitos pontos a mais.

E lembre-se: você pode encontrar a mulher dos seus sonhos no caminho do supermercado.

6 . Aja como se a satisfação dela na cama é garantida
Até cerca de 50 anos atrás as mulheres não eram autorizadas a desfrutar do sexo - essa liberdade sexual feminina tem pouquíssimo tempo se pensarmos que os homens nunca foram proibidos de gozar no final, portanto se esforce para que ela realmente aproveite ao máximo.

Todo mundo sabe onde o clitóris fica, e se você não sabe, não é nenhum crime pedir indicações, muito pelo contrário! Você nunca vai errar concentrando-se em agradar sua mulher.



7 . Recompense sua mulher por ser viril.
Um dos melhores elogios que eu já recebi de um homem foi: você não tem medo ? (sim, eu sei que é uma pergunta, mas eu me senti muito bem em ser vista como alguém tão valente).  Anos prezas às tarefas domésticas, muitas mulheres nunca aprenderam a fazer muito mais do que isso.

Felizmente na minha casa eu tive a sorte de ver minha mãe operando a furadora e meu pai lavar os pratos - a regra era fazer o que você preferia. Portanto, da próxima vez que a sua menina, levantar pesos, montar móveis, consertar o encanamento, reconheça seu trabalho.

8 . Mande mensagem ou ligue de volta imediatamente (se vc estiver interessado claro). Demonstre interesse e seja vulnerável.

Uma vez eu conheci um cara que depois de trocarmos telefones me disse: eu vou te ligar amanhã, eu não sou do tipo que tem que esperar 2 dias para ligar. Naquele momento eu soube que ele era para namorar. (E sim, ele me ligou no dia seguinte, e todos os subseqüentes enquanto o nosso romance durou). Vulnerabilidade é lindo e realmente poderoso. Seja receptivo. Dê elogios. Mostre entusiasmo. É atraente e viciante.

9 . Prepare aquele sanduíche para ela.

Há poucas coisas mais eficazes do que cozinhar para uma mulher, ou para qualquer outra pessoa. Isso mostra o seu domínio sobre a esfera doméstica. E finalmente, nada é mais sexy do que um homem que sabe cozinhar (pergunte a qualquer mulher) .


Com tanto Jamie Oliver e afins na TV e os tudogostoso  na internet, é muito fácil fazer alguma coisa. Não há desculpas. E se você for bom no que faz, tenha certeza que ela vai voltar para mais.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

No dia que eu troquei o acarajé por uma fatia de torta.

De vez em quando me aventuro a falar de temas que saem da minha simples vida de estrangeira-estudante na cidade luz e termino falando da comédia que é minha vida amorosa. Recentemente me disseram que eu devia fazer um texto politizado, sobre machismo, sobre feminismo e as minhas relações amorosas. Pensei em escrever sobre aquele ex que organizou em planilha excel todas as suas bitches com direito até a nota, pensei ainda em escrever sobre aqueles sites que advogam os direitos dos homens (dos homens sexo masculino) pois esses se sentem oprimidos em uma sociedade pós feminista, onde as mulheres tem tudo e os homens nada. Por sinal se alguém conhecer esse lugar troco o saldo da minha conta por uma passagem só de ida... Poderia falar que enquanto um jovem rapaz durante uma sessão de tortura à base cera quente, laser e pinças em suas partes íntimas não tiver escutado para ser bonito tem que sofrer, não dá para defender que os homens são o segundo sexo. 
Enfim, o tema é grande e dá para escrever um romance só dizendo o que eu poderia falar.
Porém, algo tão simples e corriqueiro aconteceu na minha última visita ao Brasil - que foi um pouco além das minhas tias e seus relógio biológicos (que por sinal meu irmão não tem) - chamou tanto a minha atenção  quanto opressão masculina em tempos feministas. 
Num belo dia de verão naquela capital baiana em que o cheiro de dendê está em cada esquina e o Astro-Rei acaricia nossas faces (antes da onda de calor em que essas carícias se transformaram em tapas), eu não fui ao Porto comer acarajé, nem ao Bonfim pedir proteção, mas a uma casa de chá comer um bolo. 
Ar-condicionado, cadeiras confortáveis, garçons, nada de dendê, nada de fitinhas coloridas... Eu e meu pequeno-grande irmão saboreamos tortas doces e salgadas, refrigerantes e coxinhas, das quais me arrependi na primeira tentativa de entrar no biquini brasileiro. 
Barriga cheia, é hora de pagar. A conta chega e o garoto, muito esperto como é, lembra-me daquela quantia que o devo e que não perdoará. Chamo mais uma vez o garçom, aponto para o valor total da conta. Da minha carteira tiro o cartão e entrego-lhe, ele, por sua vez, insere o cartão na máquina e entrega para o homem da mesa que, desconhecedor da minha senha secreta, não entende o que está acontecendo. Olho para o garçom e pergunto:  
- Foi eu quem deu o cartão, como é que ele saberia a senha? 
O pobre garçom, envergonha-se da sua terrível gafe, um pouco sem saber o que dizer, responde titubeante :  
-Mas, é... eu coloquei o valor total!
Talvez eu devesse ter recusado a pagar os 10% nesse momento, mas grunhi algo como eu estou pagando a conta toda e parti. 

Nesse mundo pós feminista, em que homens vêem seus direitos tolhidos em prol de uma sociedade pautada nos diretos para as mulheres, a idéia de que  o homem do outro lado da mesa saiba a senha do seu cartão é menos absurda do que uma mulher pagar a conta toda.


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Gargalhadas e Lágrimas ou o Amor em 3 atos

Depois que o tempo passar e tudo que um dia foi triste é agora engraçado descrevo aqui um cena baseada em fatos reais. Afinal certamente um amigo meu me aconselhou escrever um blog sobre os homens da minha vida.

Ato I

Ela no bar olha para todos os lados como procurando alguém. Ele aparece olhando-a fundo nos olhos. Ela solta um ligeiro sorriso.

Um amigo: Ela, esse é Ele.
Ela: Prazer.
Ele: Prazer. Você vem de onde?
Ela: BraZil. E você?
Ele: Daqui mesmo. Você tem um sotaque muito sexy... Me ensine algo em brasileiro!
Ela: Brasileiro não, português. O que você quer saber? Oi, tudo bem?
Ele: Não, algo mais elaborado. Algo como: eu quero te beijar agora.
Ela (desconfortável, engole seco e ensina a frase em português).
Ele: Porquê você não se levanta?
Ela (se levantando): ok, ok. Estou de pé...
Ele: Nossa, você é baixinha!
Ela: Bom posso sentar de volta então.
Ele: Não, não... (Enquanto a deixa encurralada, espremida entre ele e o parapeito)

Ela olha para todos os lados, um pouco presa, um pouco desconfortável, ele, mão em sua cintura continua a olhar fundo em seus olhos, os lábios se tocam

Ato II

Ele e Ela de mãos dadas, caminham, sorriem na rua.

Ela: Mas quando eu for embora?
Ele: Eu não posso manter uma relação à distância.
Ela: Mas...
Ele: Poderíamos ser amigos no Skype.
Ela: Não, nós não somos amigos.
Ele: Então não seremos amigos no Skype.
Ela: Gosto de você, vou sentir sua falta... Talvez se...
Ele: Eu preciso te dizer algo.
Ela: Diga.
Ele: Eu... Deixa para lá!
Ela: Fiquei curiosa! Agora tem que falar!
Ele: Depois, mais tarde...
Ela: Poxa, você hein! Muita sacanagem me deixar na curiosidade, para quê começar algo... (Ri.) Enfim não quer falar não fala!
Ele: é por isso que te amo...

silêncio

Ela : Você disse que me ama? (ri)
Ele: Sim...
Ela (o abraça e ri): (baixo no seu ouvido) eu acho que te amo também...

Ato III

Ele e Ela.

Ela está na saída do metrô, aprecia aquela belíssima arquitetura a seu redor, pela primeira vez chegou na hora e Ele atrasado. A vida realmente é uma bela piada.

Ele chega, a beija rapidamente, é a chuva talvez, caminham pela rua molhada enquanto gesticulam animadamente discutindo as últimas novidades das vidas cotidianas. Chegam num bar e sentam-se em uma mesa. Ela vai beijá-lo. Ele afasta-se.

Ela: o que há? 
Ele (indeciso): Sabe Ela, o que você deixou na minha caixa de correios me tocou muito.
Ela (sorri): Ora, não foi nada!

(Entra o Garçom)

Garçom : Vocês já escolheram?
Ela : Uma taça de tinto, por favor.
Ele (titubeante): Para mim também.

(O Garçom sai)

Ele: Mas eu fiquei muito tocado com o que você fez, foi muito bonito. E isso me fez pensar... Eu vou te dizer isso porque te amo muito, muito mesmo. (Entra o Garçom e coloca duas taças de vinho sobre a mesa. Garçom sai) Eu não estou pronto para isso.
Porque se eu não te amasse eu não me importava, não daria a mínima, mas como te amo eu me importo com você.
Ela (toma um gole do vinho) : hum, ok então.
Ele : Mas você é uma pessoa genial! E esse tempo com você foi fantástico, acho que a gente pode desenvolver uma verdadeira amizade.

Ela : Desculpa mas não.
Ele : Não? Mas por quê?
Ela : Olha, foi legal, foi lindo e etc. Mas aí não dá, para mim não dá.
Ele: Mas e todo esse tempo que a gente passou junto, os momentos que vivemos, as conversas, as...
Ela: ...foi tudo ótimo, muito bom, mas Ele, não dá para você ter tudo né. Claro que você quer ser meu amigo, eu sou ótima! Mas aí você vai ficar feliz e contente com essa amizade e eu quebrar a cara. Obrigada, mas não obrigada.

Ele :  Eu queria muito que você pudesse ir para meu espetáculo, queria muito ouvir o que você tem a dizer.
Ela: É, mas não vou mais não. No dia que você apresentar aqui nessa cidade eu vou, mas daí a viajar para ver, eu não sou mais sua namorada.
Ele : E o espetáculo que você está preparando, eu tenho certeza que vai ser maravilhoso, eu queria tanto poder ir ver...
Ela: E você pode! Você será bem vindo...
Ele: Mas preciso de uma forma para saber... Será que posso pelo menos ser seu amigo de Facebook?
Ela: Claro. Você também não virou meu inimigo!

Ele toma um gole do vinho, uma lágrima escorre pela sua face

Ela : Você está chorando? Você está terminando comigo e você está chorando? (ri)
Ele (lágrimas escorrem pela sua face) : Sim... e você está rindo! Você está tendo seu coração partido, e você está gargalhando!





terça-feira, 17 de dezembro de 2013

E quando bate a meia-noite?

Quem já ouviu falar em relógio biológico?

Na minha infância o relógio biológico era o que te fazia levantar da cama sem despertador, acordando na hora que seu corpo pedia e dessa forma passando o resto do dia feliz, leve e disposta.

De repente você cruza a linha que divide a adolescência da adultescência, não que eu me sinta uma adulta aos 25 anos dependendo do paitrocínio mensal que me sustenta em terras francesas - e ele começa a fazer mais parte da sua vida do que nunca. Por vezes comparado com o boi da cara preta que assusta as criancinhas: o relógio biológico vem aí! Pega essa menina que tem medo de careta!

Mas, eis que em um belo dia de outono ou primavera (a depender do seu hemisfério) você retorna para terras familiares, pelo breve instante de uma semana, e há toda uma expectativa em torno das suas conquistas. É aí que o conceito de relógio biológico realmente muda, pois agora ao invés de ser seu horário natural de abrir os olhos e sair da cama, transforma-se, ele mesmo, em irritante despertador que te obriga a sair dela às 6h ou fugir do baile à meia-noite.

Seus muitos amigos já ouviram esse badalo e correm com suas abóboras e camundongos. Sua tia capaz de escutar não só o próprio alarme biológico, mas como de prever o alheio também, olha para você com um leve sorriso condescendente: você diz isso agora minha filha mas quando o relógio biológico bater... (enquanto bate freneticamente no seu próprio relógio, movido a bateria por sinal).

A madrinha, que de fada tem muito pouco, dá o pontapé inicial naquela conversa que te faz pensar que o alarme apitou e você, querida, colocou em modo soneca.

- Está namorando, minha filha? indaga-me muito desinteressadamente. Que nada, tia. Respondo querendo gerar ainda menos interesse. 

(pausa dramática) ...

- E você tem quantos anos mesmo? ... vinteecinco

(pausa mais dramática, seguida de olhar de pena e mudança brusca de assunto) ...

Talvez eu esteja enganada e ela seja sim a  personificação da fada madrinha à la Cinderela, que, depois de te dar todos os elementos para a diversão, vem te avisar que a festa só pode ser curtida até meia noite... pois ao badalar do relógio você vira abóbora e que príncipe vai querer comer abóbora não é? (um príncipe vegetariano, penso eu). E é à meia-noite que sua carruagem murcha, seu vestido se torna um avental, e seus cavalos, meros camundongos. É esperando o badalar do relógio que fica a pobre Cinderela, a festa toda, na iminência desse som que avisa que festa não acabou, mas, me desculpe, você não está mais apta a participar dela. Afinal uma vez apitado o relógio biológico nos transformamos em gatas borralheiras e toda a mágica se esvai...

Pobre Cinderela, a quem não ensinaram o botão soneca, para fazer dormir - de preferência em sono eterno - o irritante badalar do relógio, e quem sabe permiti-la a curtir o badalo da festa. Sem bicho papão, sem sapato de cristal nem nada, saboreando lentamente o seu doce de abóbora...





Ainda bem que meu relógio veio sem bateria...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Vivendo fora de casa, ou melhor, dentro da SUA casa

Quando era adolescente, sempre sonhava em um dia morar com a melhor amiga, sair do manto materno e ir desbravar outros mundos, ou melhor outras cozinhas, banheiros e horários de almoço...

Claro que antes disso tudo a gente sempre esquece que fora do recanto da mamãe a louça não é auto-lavante, a roupa de cama não é auto mutante, as refeições não tem tanta qualidade... Mas esse dia sempre chega, e aos 18 anos ao invés de sair da casa dos pais, foram eles que saíram da minha, voltaram para o "interior" me deixando sozinha em um ap de adulto, em nobre bairro soteropolitano. Pobre menina rica, 3 quartos para escolher um por dia onde dormir, a empregada vinha todo dia, quase uma babá, cozinhava, limpava, lavava, restava a essa pobre pós adolescente pagar as contas e tudo magicamente funcionava. A vida sozinha era belíssima!

Mas tudo que é seguro um dia acaba, e a gente bate asas para longe, para o outro lado do oceano de preferência. E para qualquer criança da década de 90, dividir um apartamento é o sonho: o dia a dia dos sitcoms americanos, amigos presentes em seu espaço compartilhado, risadas, bebidas, diversão, tudo parece a perfeição. 

Oh! o dia-a-dia real, você o nota quando está carregando um sofá em uma escada estreita, em seguida um armário de 50kg, e se encontra na madrugada montando móveis IKEA com manuais de desorientação.

A vida não tem mais regras, e Paris é sim uma festa, brigadeiros na madrugada, garrafas de vinho na segunda-feira. O problema é acordar na terça e descobrir que as garrafas não aprenderam o caminho da rua, o brigadeiro frio na panela já não tem mais charme e aquela fruta que você prometeu comer exala um odor estranho na geladeira e você não sabe de onde vem. De repente seu saco de roupa suja ultrapassa o de roupa limpa, e você termina saindo assim com aquele figurino meio úmido, meio amassado que acabou de sair da máquina. Eis que você vira sua mãe, fazendo para seu roommate a mesma piada que ouviu toda sua infância: "você é filha do dono da coelba?" (COELBA era a empresa de eletricidade da Bahia na minha infância). 

Compartilhar o espaço não é um seriado americano, primeiro porque ninguém tem dinheiro para pagar um apartamento grande e bem decorado, seja ele em dólares ou em euros, principalmente se seu emprego é quase inexistente. (Exceto quando seu sofá fica realmente preso na escada) Mas é saber que nem todo cabelo que entope o ralo é seu, encontrar a pia transbordando quando tudo que você quer é um copo com água, receber visitas depois de um pé na bunda quando tudo que se quer fazer é correr e chorar num canto. É aprender a abrir mão e ser assertiva, reclamar sem explodir e conseguir ficar quieta sem implodir. 

Porém, se "o inferno são os outros", vale lembrar que o paraíso é um tédio e aos vintetantosanos ninguém quer viver no branco profundo ao som de uma harpa. E é no vermelho intenso que a gente encontra o calor, o calor humano de um abraço inesperado, de uma risada compartilhada, de saber que ninguém vai te deixar chorar sozinha pelos amores mal resolvidos (e sim, eles são muitos), mas talvez te impulsionem a abraçar o capeta enquanto se entope de brigadeiro, é sempre ter alguém para dividir o brigadeiro na madrugada (e dessa forma ter certeza que sozinha não engordará).

A vida fora do ninho não é cor-de-rosa, e às vezes dá sim vontade de pedir penico.  Abrir mão de tudo para poder acordar e encontrar um espaço impecável, enquanto a vovó pergunta: "o que você quer almoçar hoje?"

Mas em meio a todo o caos, toda a implosão, e toda a diversão que fazem você sentir que nunca sairá dos seus vinte e poucos anos e se metamorfosear em adulto de verdade, você se pega pensando que se essa vida assim não estava nos seus planos, você não a trocaria por nenhuma outra. 

Corrigindo: se as garrafas soubessem o caminho da rua tudo seria muito melhor....

domingo, 13 de outubro de 2013

A letra fora do alfabeto

Em uma bela quinta feira pós verão tudo que outrora estava acertado, pago e definido desfez-se. Havia uma passagem para aquela grande maçã, cenário de intensas paixões de verão. Bom preço, pensava, passagem barata, me sentia a grande sortuda! Porém paixões acabam, e na quase véspera da partida, nem sofá havia sobrado do grande amor de outrora. E o que era barata virou cara, imutável, invendável, não rembolsável. O bolso e o coração duelavam. 


Vai! Vai! Vai! Vai!

Não Vou!



Não fui! 

E, como ainda diz a canção: amor só é bom se doer, pergunte para o meu saldo bancário que estava vermelho de dor. Encontrava-me sem casa, pois enquanto acreditava que ia aluguei meu quarto, passagem desmarcada, arrumei as malas, mudei para a sala. 

Coração partido, conta quebrada, espremida no sofá cama, facebockiando minhas desventuras descubro amigos daquela mesma grande maçã vindo ao velho mundo: uma carona para Zurich? 
Por que não, me pergunto, a mala está pronta, já estou no sofá mesmo, porque não troca-lo por um Suiço. Assim sem aviso prévio, sem programação, sem lenço nem documento, num céu de quase dezembro, eu fui.
Pulei no carro com um quase estranho, quase conhecido que em breve seria amigo. 
- Pararemos em Lyon primeiro, me disse. Topo tudo, respondi.


Uma vez que o plano A havia falhado, e os planos B, C e D não tinham a atratividade daquela primeira vogal. Eis que o inesperado acontece, que te impele apenas a dizer sim e mostra que tudo não passa mesmo de uma folha em branco, tudo pode ser redigido, riscado, pintado, mas se a tinta é permanente, o número de folhas é ilimitado.

Em Lyon, adentro em um albergue espanhol, um grande apartamento, jovem, caótico, artístico. Música toca, pós adolescentes enroscam-se nos sofás, fumando, bebendo, pintando, fazendo música, cozinhando. Peregrino pela cidade com esses estranhos e amigos, jantamos um jantar preparado à 20 mãos, todos colaboram, dessa forma o acerto é coletivo. A noite chega, nos espalhamos por aí, dorme-se no quarto, no colchão, na sala, na cozinha ou no chão.



Lyon
No dia seguinte, malas refeitas, pulamos no carro seguimos para a terra de Dada. Para cada quilômetro de túnel seguia-se uma bela paisagem: montanhas, lagos, cada curva uma surpresa. Em Zurich fui acolhida por aquele abraçaço que tanto precisava, mas não pedia, sequer sabia. Sorrisos, historias compartilhadas, vinhos, maçãs, fondues. Embarcamos num trem rumo ao topo da montanha, uma bela vista nos esperava. Nos encontramos no centro da nuvem, um branco infinito nos rodeava, como aquela folha, repleto de possibilidades. Não há tempo ruim suficiente para sufocar o riso, evitar as fotos, matar os abraços. No retorno tomamos o barco a vapor rumo à belíssima Luzerne e sua ponte de madeira. Um chocolate quente, um café irlandês, um alemão mal falado. Passeio pela cidade do Dadaísmo, igrejas, lagos, salsichas e mostarda, a chuva e o frio não nos impedem de aproveitar cada momento, perdidos nas pequenas ruas. Foi com uma pizza e um abraço apertado que me despedi da evil crew, que se formou em um verão, assim tão aleatoriamente quanto essa viagem. 



O horizonte branco. Foto por: Steve V Peralta

 Se eu não parti para cidade que nunca dorme, foi ela que veio até aqui perturbar meu sono, colar o coração, com cola de maresia, com abraço de amigo, com gargalhas sem motivo. Retornei à cidade luz renovada, preparada para mais uma, para mais várias, para o inesperado e a aventura, em busca das folhas em branco.

Aquilo que nem era plano nem nada, não era nem possibilidade, transforma-se na mais bela aventura. Nada pode dar errado, afinal não há expectativa, nem check list, não existe certo. Finalmente joguei fora os planos de A à Z, e pulei naquele que nem existia mas que apenas era...

Meu destino não traço,
Não desenho, disfarço,
O acaso é o grão-senhor.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

500 days of winter

Meus dois anos de França se completam, na verdade até um pouco mais. Nesses mais de 500 dias de Paris eu vivi de tudo, sobretudo o inverno cinza que dura mais do que os três meses destinados a ele no calendário. Vi dois verões, duas primaveras, um sol apenas, inúmeros vinhos e 3 amores, cada um de um canto do globo, cada um tão diferente e igual como apenas os amores impossíveis podem ser. E agora o número 3 chega a seu fim, e assim como estive em outubro de 2011, me encontro em outubro de 2013, ouvindo um Grande Amor de Chico.  Outrora estive na mesma situação, sem saber se vou ou se fico, mas era do país do carnaval que partia, o coração na mão e as esperanças como guia, partido ficou o pulsante coração que nem sempre se contenta em bater e apanha muito mais do que devia, mas talvez não tanto quanto gostaria. 500 dias depois, com direito a 90 de amor possivelmente impossível cuja dor de cotovelo nada mais me rendeu que um corpitcho bacana para aproveitar o verão soteropolitano, me encontro aqui na mesma situação que quando cheguei.
As vezes penso que se fosse marinheiro era eu quem tinha partido, me esquecendo de que quem partiu fui eu, desta vez foi daquela grande maçã, que arrebatou-me como outrora essa velha Paris fez. Parti, com o coração pulsante na mão, sorridente dizendo não mais apanhar, sou forte agora! Pronta estava para a nova aventura, voltaria àquela que nunca dorme, para amar aquele em cujos braços eu poderia repousar em paz. E eis que a vida vem, e esse vento, o qual me pergunto tanto de onde vem e para onde vai, leva até o último grão da frágil paixão, que eterna foi enquanto durou, mas que foi tão efêmera quanto uma vela numa tempestade. Mal sabíamos que infinito é apenas o oceano que separa os amantes, e foi com juras do poetinha que nos portões de embarque selávamos o destino, talvez sabendo mais do que deixávamos transparecer.

Juraram deixar-se quando o amor acabasse, que seja eterno enquanto dure, disse ela, e se durar para sempre melhor, completou. Lágrimas rolavam enquanto chineses, japoneses, franceses e alemães embarcavam para destinos mil, como não amar a paixão impossível do americano e da brasileira? E tanto amor pergunta-se logo se era um pelo outro ou pelo amor mesmo, que só era porque não poderia ser. E a resposta jamais teremos, pois não foi, nem jamais haveria de ser. Não houve tecnologia, nem Iphone, nem passagens compradas em impulsos infantis que permitiu aos amantes tocar o platônico. 
Mal sabem eles que talvez assim, sem jamais verem o amor esvair-se no dia a dia dos casais, nas contas, nas brigas, nas manias chatas, tenham guardado para si o melhor. Esvaiu-se sem se ver, ou melhor, foi derramado ao longo dos milhares de quilômetros que os separava, repousando no fundo do salgado mar que conta agora com as lágrimas choradas e as aventuras jamais vividas dessa brasileira parisiense, e daquele americano... 
Saying good bye